

Atualmente a autonomia do enfermeiro e de outros profissionais da saúde para atuar em procedimentos estéticos tem sido muito debatida e questionada no Brasil.
Como enfermeira especialista em dermatologia, atuando em consultório médico, assistindo e participando de diversos procedimentos estéticos e , sendo profissional liberal/ autônoma, há mais de vinte anos, acredito que nós enfermeiros especialistas em dermatologia temos que discutir amplamente esta questão.
Quando falamos em procedimentos estéticos, associamos imediatamente à aplicação da toxina botulínica, preenchedores, peelings, lasers, dentre outros. A ideia de que os procedimentos estéticos são simples e que geram grandes lucros aos profissionais, induz à uma visão distorcida de “ganhos fáceis sem maiores esforços”, o que é ilusório, pois estes procedimentos são técnicas específicas que exigem muitos conhecimentos e ampla prática do profissional, para se garantir a segurança do paciente e evitar agravos.
Por outro lado, a maior preocupação das pessoas com a estética, com a aparência física e com a aparência da pele vem despertando interesse de muitos profissionais de saúde, inclusive do enfermeiro. Felizmente! Isto vai na contramão do pensamento de MONTAGU, quando diz que “a maioria das pessoas considera a pele como algo que não merece atenção específica, exceto quando se queima e descasca, ou fica coberta de espinhas, ou transpira desagradavelmente”.
A população está mais atenta em examinar suas “manchas e pintas”, se preocupam com a pele ressecada, usam cosméticos para melhorar a sua aparência e os produtos de proteção solar. Certamente, ainda estamos muito longe de fornecermos o mínimo, à atenção básica a saúde da pele, especialmente no Brasil, mas já é um avanço.
Segundo o Presidente Executivo da Associação de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), esta atividade continuará em alta, mesmo com a crise que o país atravessa. A venda de cremes hidratantes lidera o ranking no mercado, junto com itens de perfumaria, sendo o Brasil o terceiro país no ranking mundial no consumo de Cosméticos (fonte SEBRAE), perdendo apenas para os EUA e Japão.
Outro ponto muito importante é que a população brasileira de idosos (pessoas com 60 anos em diante) dobrou de tamanho, atualmente com mais de 23,5 milhões e com estimativa de triplicar em 20 anos. Pesquisas apontam que os idosos correspondem 21% da renda na sociedade (Revista exame – Pesquisa data Popular 2013) e que a terceira preocupação dos mesmos é a aparência física, perdendo apenas para a saúde e situação financeira. E esta ideia do “envelhecer bem”, com boa aparência, contribui para a busca por produtos e serviços na área da dermatologia e estética. Muitas empresas estão de olho neste “novo mercado”, produzindo produtos cosméticos exclusivos para pessoas da terceira idade.
Para atender esta nova demanda, necessitamos de profissionais especializados, incluindo o enfermeiro, principalmente os especialistas na área de Dermatologia.
Nos serviços de dermatologia, tanto em clínicas, como em consultórios, muitas atividades de enfermagem são realizadas como o pré e pós atendimento clínico, cirúrgico ou estético, e estas atividades devem ser desenvolvidas com a supervisão do enfermeiro, através da sistematização do cuidado, da organização do serviço, e da atenção com o material utilizado.
É necessário pensar na qualidade do atendimento ao paciente/cliente e no trabalho conjunto com profissionais médicos e não médicos de uma forma harmoniosa, ética e segura, com foco na qualidade do serviço prestado ao paciente/cliente.
De acordo com uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) (2006), sobre o perfil nosológico de consultas Dermatológicas no Brasil , indica que a primeira causa de busca ao consultório dermatológico é a Acne, seguida de micoses superficiais, transtornos de pigmentação, ceratose actínica e carcinoma basocelular, sendo a Hanseníase a vigésima causa. Se analisarmos duas das mais mencionadas (acne e transtornos pigmentares), se tem os desdobramentos na autoimagem e estética.
A Dermatologia é uma das especialidades mais difíceis, com mais de três mil doenças catalogadas, além de contemplar a dermatologia cirúrgica e estética.
Sendo assim, o que me faz pensar muito é : “Como eu vou realizar um procedimento estético (na pele, ou através dela), sem ter conhecimento deste órgão tão incrível, que nos mostra sinais que muitas vezes não são dela”?
Ao mesmo tempo, entendo que um profissional especializado, com boa formação, sério e ético, que tem amplos conhecimentos na área, tem autonomia para realizar procedimentos estéticos que sejam de sua competência técnica, como por exemplo peelings, microagulhamento, lasers de depilação, o uso de aparelhos de eletroterapia facial e corporal, como ultrassom, microocorrentes, endermologia, radiofrequência e ainda, os injetáveis, como acontece nos Estados Unidos, Canadá e Europa.
Delimitar o campo de atuação do enfermeiro na dermatologia estética ainda é um desafio no Brasil, pois determinados procedimentos atingem diferentes níveis de profundidade na pele e tem maior ou menor risco, como por exemplo os peelings, que variam de muito superficiais a profundos; o microagulhamento, que varia de 0,5 mm a 2,5mm da agulha usual; os lasers, que existem aparelhos para diversos tratamentos.
Diferentemente da atuação de enfermeiros especialistas em dermatologia e estética em outros países como Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, por exemplo, onde estes profissionais tem bastante autonomia para exercer atividades estéticas invasivas, como a aplicação de toxina botulínica, aqui no Brasil, nossa legislação atual nos impede.
Precisamos investir mais na formação do enfermeiro, assim como acontece nos países exemplificados, onde a formação do enfermeiro é extremamente rigorosa e, ainda, investir em cursos de pós graduação / especialização em enfermagem em dermatologia em todo o Brasil, cursos estes, que prezem pela formação com qualidade, para que possamos atender toda a demanda na área, não só de clínicas e consultórios médicos, mas para que o profissional possa trabalhar com empreendedorismo e autonomia, otimizando o atendimento dermatológico e estético a população.
A estética é exercida por vários profissionais de saúde no Brasil e no mundo, e o enfermeiro especialista em dermatologia não deve andar na contra mão da história. Devemos buscar uma formação de qualidade e lutar pelo nosso espaço no mercado de trabalho e, para isso , o ideal é que as Associações de especialistas na área de enfermagem em dermatologia, estética e afins, juntamente com nossos órgãos reguladores trabalhem em conjunto, visando o bem comum de todos os enfermeiros que atuam na área.
Mara Lúcia Gonçalves Diogo
Enfermeira Especialista em Dermatologia
Profissional Liberal atuando em consultório particular na área de Dermatologia e estética desde 1997.
5 comentários. Deixe novo
O Enfermeiro especialista em Enfermagem Dermatologica têm competência para exercer a função dentro do campo dermatológico,isto com estudos,ética,respeitando os limites etd que refere a competência dele como Enfermeiro na area dermatologica.
Grata Ana.
Sem dúvida, sem conhecimento tudo não passa de achismo.
Excelente artigo, reflete bem o momento que atravessamos no País, impedidos nacionalmente mas com exemplos internacionais nos indicando para onde devemos caminhar. Para tal precisamos que nossas sociedades representativas nos respaldem em mais esta conquista para a enfermagem brasileira.
Obrigada Luciana
Sim justamente por…. “são técnicas específicas que exigem muitos conhecimentos e ampla prática do profissional, para se garantir a segurança do paciente e evitar agravos” … É q a capacitação profissional com 100h práticas em pós graduação latu sensu determinado pelo cofen na resolução é q deve ser respeitada, a especialização somente em dermatologia não contempla essa prática.